Em 19/06: BLAISE PASCAL
★19/06/1623 †19/08/1662
Físico, matemático, filósofo e teólogo francês.
Prodígio, Pascal foi educado por seu pai. Os primeiros trabalhos de Pascal dizem respeito às ciências naturais e ciências aplicadas. Contribuiu significativamente para o estudo dos fluidos. Ele esclareceu os conceitos de pressão e vazio, estendendo o trabalho de Evangelista Torricelli. Pascal escreveu textos importantes sobre o método científico.
Aos 19 anos inventou a primeira máquina de calcular, chamada de máquina de aritmética, depois roda de pascalina e finalmente pascalina. Construiu cerca de vinte cópias na década seguinte. Matemático de primeira linha, criou dois novos campos de pesquisa: primeiro, publicou um tratado de geometria projetiva aos dezesseis anos; então, em 1654, ele desenvolveu um método de resolver o “problema dos partidos”, que, dando origem, no decorrer do século XVIII, ao cálculo das probabilidades, influenciou fortemente as teorias económicas modernas e as ciências sociais.
Depois de uma experiência mística que experimentou em novembro de 1654, dedicou-se à reflexão filosófica e religiosa, sem renunciar ao trabalho científico. Escreveu durante este período The Provincials and Thoughts, publicado somente após a sua morte, que ocorreu dois meses após o seu 39º aniversário, quando já se encontrava muito doente (sujeito a enxaquecas violentas em particular).
Em 8 de julho de 2017, em uma entrevista ao jornal italiano La Repubblica, o Papa Francisco anunciou que Blaise Pascal “merece a beatificação” e que planeja iniciar o procedimento oficial.
Vida
Blaise Pascal era filho de Étienne Pascal, professor de matemática, e de Antoinette Begon. Perdeu a sua mãe com três anos de idade. Seu pai tratou da sua educação por ele ser o único filho do sexo masculino, orientando-o com vistas ao desenvolvimento correto da sua razão e do seu juízo. O recurso aos jogos didácticos era parte integrante desse ensino que incluía disciplinas tão variadas como história, geografia e filosofia.
O talento precoce para as ciências físicas levou a família a Paris, onde ele se consagrou ao estudo da matemática. Acompanhou o pai quando este foi transferido para Rouen e lá realizou as primeiras pesquisas no campo da Física. Suas experiências sobre sons resultaram em um pequeno tratado (1634). No ano seguinte chega à dedução de 32 proposições de geometria estabelecidas por Euclides. Publica Essay pour les coniques (1640), obra na qual está formulado o célebre teorema de Pascal.
Blaise Pascal contribuiu decisivamente para a criação de dois novos ramos da matemática: a Geometria Projetiva e a Teoria das probabilidades. Em Física, estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e vácuo, ampliando o trabalho de Evangelista Torricelli. É ainda o autor de uma das primeiras calculadoras mecânicas, a Pascaline, e de estudos sobre o método científico.
Como matemático, interessou-se pelo cálculo infinitesimal, pelas sequências, tendo enunciado o princípio da recorrência matemática. O cálculo diferencial e integral de Newton e Leibniz que seria a base da física clássica foi inspirado em um tratado publicado por Blaise Pascal sobre os senos num quadrante de um círculo onde buscou a integração da função seno, que também viria a ser a base da matemática moderna.
Criou um tipo de máquina de calcular que chamou de La pascaline (1642), uma das primeiras calculadoras mecânicas que se conhece, conservada no Museu de Artes e Ofícios de Paris.
Anders Hald escreveu: “Para aliviar o trabalho do seu pai como agente fiscal, Pascal inventou uma máquina de calcular para adição e subtração assegurando sua construção e venda.” Seguindo o programa de Galileu e Torricelli, refutou o conceito de “horror ao vazio”. Os seus resultados geraram numerosas controvérsias entre os aristotélicos tradicionais.
Em 1646 a família converte-se ao Jansenismo.
De volta a Paris (1647), influenciado pelas experiências de Torricelli, enunciou os primeiros trabalhos sobre o vácuo e demonstrou as variações da pressão atmosférica. A partir de então, desenvolveu extensivas pesquisas utilizando sifões, seringas, foles e tubos de vários tamanhos e formas e com líquidos como água, mercúrio, óleo, vinho, ar, etc., no vácuo e sob pressão atmosférica.
Em 1651 o seu pai morreu.
Na sequência de uma experiência mística, em finais 1654, faz a sua “segunda conversão” e abandona as ciências para se dedicar exclusivamente à filosofia e à teologia, num período marcado pelo conflito entre jansenistas e jesuítas. No ano seguinte, recolhe-se à abadia de Port-Royal-des-Champs, centro do jansenismo. Só voltaria às ciências após “novo milagre” (1658). São desse período as suas principais contribuições no campo filosófico-religioso: Les Provinciales (1656-1657), conjunto de 18 cartas escritas em defesa do jansenista Antoine Arnauld – oponente dos jesuítas que estava em julgamento pelos teólogos de Paris – e Pensées fragmentos publicados postumamente (1670), nos quais estão formuladas suas ideias sobre a espiritualidade e a defesa do cristianismo. Entre os Pensées (Pensamentos) encontra-se também a sua frase mais citada: “O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece”.
Como teólogo e escritor destacou-se como um dos mestres do racionalismo e irracionalismo modernos, e sua obra influenciou os ingleses Charles e John Wesley, fundadores da Igreja Metodista.
Pascal aperfeiçoou o barômetro de Torricelli e, na matemática, com o Traité du triangle arithmétique (“Tratado do triângulo aritmético”, mais conhecido como triângulo de Pascal), de 1654, estabeleceu, juntamente com Pierre de Fermat, as bases da teoria das probabilidades e da análise combinatória, que o holandês Huygens desenvolveria posteriormente (1657). Entre 1658 e 1659, escreveu sobre o ciclóide e a sua utilização no cálculo do volume de sólidos. Após obter resultado sobre os quadrados dos cicloides publicados em 1658, desafiou matemáticos da época a solucionarem problemas relacionados aos ciclóides e chegarem aos resultados por ele já alcançados.
Um dos seus tratados sobre hidrostática, Traité de l’équilibre des liqueurs, só foi publicado um ano após sua morte (1663). Pascal também esclareceu os princípios barométricos, da prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões. Estabeleceu o princípio de Pascal que diz: em um líquido em repouso ou equilíbrio, as variações de pressão transmitem-se igualmente e sem perdas para todos os pontos da massa líquida. É o princípio de funcionamento do macaco hidráulico. Na Mecânica é homenageado com a unidade de tensão mecânica (ou pressão)
Pascal (1Pa = 1 N/m²; 105 N/m² = 1 bar).
Pascal, que sempre teve uma saúde frágil, adoeceu gravemente em 1659. Morreu em 19 de agosto de 1662, dois meses após completar 39 anos. Seu corpo foi sepultado na Igreja de Saint-Étienne-du-Mont, Ilha de França, Paris na França.
Contribuições à Matemática
Pascal continuou a influenciar a matemática ao longo de sua vida. Seu Traité du triangle arithmétique (“Tratado sobre o Triângulo aritmético”) de 1653 descreveu uma apresentação tabular conveniente para os coeficientes binomiais, agora chamado triângulo de Pascal. O triângulo também pode ser representado:
0 1 2 3 4 5 6
0 1 1 1 1 1 1 1
1 1 2 3 4 5 6
2 1 3 6 10 15
3 1 4 10 20
4 1 5 15
5 1 6
6 1
Ele define os números no triângulo por recursão: Chame o número na (m+1)-ésima linha e na (n+1)-ésima coluna por tmn. Então tmn = tm-1,n + tm,n-1, para m = 0, 1, 2… e n = 0, 1, 2… As condições de contorno são tm, −1 = 0, t−1, n para m = 1, 2, 3… e n = 1, 2, 3… O gerador t00 = 1. Pascal conclui com a prova,
\( \displaystyle {t_{mn}={\frac {(m+n)(m+n-1)…(m+1)}{n(n-1)…1}} }\)Em 1654, solicitado por um amigo interessado em problemas de jogos, ele correspondeu-se com Pierre de Fermat sobre o assunto e desta colaboração nasceu a teoria matemática das probabilidades. O amigo era Antoine Gombaud e o problema específico foi o de dois jogadores que querem terminar um jogo mais cedo e, dadas as atuais circunstâncias do jogo, querem dividir as apostas de forma justa, com base na chance que cada um tem de ganhar o jogo a partir desse ponto. A partir desta discussão, a noção de valor esperado foi introduzida. Pascal mais tarde (nos seus Pensées) usou um argumento probabilístico, a Aposta de Pascal para justificar a crença em Deus e uma vida virtuosa. O trabalho realizado por Fermat e Pascal para o cálculo de probabilidades estabeleceu os fundamentos importantes para a formulação de Leibniz do cálculo infinitesimal.
Filosofia da Matemática
A grande contribuição de Pascal para a filosofia da matemática veio com o seu De l’Esprit géométrique (“Do Espírito Geométrico”), originalmente escrito como um prefácio para um livro de geometria para um dos famosos “Petites écoles de Port-Royal” (“Escolinhas de Port-Royal”). O trabalho ficou inédito até mais de um século após sua morte. Aqui, Pascal estudou a questão da descoberta de verdades, argumentando que o ideal de um tal método seria encontrar todas as proposições sobre as verdades já estabelecidas. Ao mesmo tempo, no entanto, ele alegou que isso era impossível porque tais verdades estabelecidas exigiriam outras verdades para apoiá-las — os primeiros princípios, portanto, não podiam ser alcançadas. Com base nisso, Pascal argumentou que o procedimento utilizado em geometria era tão perfeito quanto possível, com alguns princípios assumidos e outras proposições desenvolvidas a partir deles. No entanto, não havia nenhuma maneira de saber se os princípios assumidos eram, de fato, verdade.
Pascal também utilizou o De l’Esprit géométrique para desenvolver uma teoria da definição. Ele distingue entre as definições que são rótulos convencionais definidas pelo escritor e definições que estão dentro da linguagem e compreendidas por todos, pois naturalmente designam seu referente. O segundo tipo seria característica da filosofia do essencialismo. Pascal afirmou que apenas as definições do primeiro tipo são importantes para a ciência e a matemática, argumentando que esses campos devem adotar a filosofia do formalismo, tal como formulado por Descartes.
No De l’Art de persuader (“Sobre a Arte da Persuasão”), Pascal estudou de forma mais profunda o método axiomático da geometria, especificamente a questão de como as pessoas vem a ser convencidas dos axiomas sobre os quais conclusões posteriores se baseiam. Pascal concordou com Montaigne que alcançar a certeza nestes axiomas e as conclusões através de métodos humanos é impossível. Ele afirmou que esses princípios só podem ser apreendidos através da intuição, e que este fato ressaltou a necessidade de submissão a Deus na busca de verdades.
Legado
Em honra de suas contribuições científicas, o nome Pascal foi dado à unidade SI de pressão, a uma linguagem de programação, à lei de Pascal (um importante princípio da hidrostática), e o triângulo de Pascal e a aposta de Pascal ainda levam o seu nome.
O desenvolvimento de Pascal da teoria da probabilidade foi a sua contribuição mais influente para a matemática. Originalmente aplicada ao jogo de azar, hoje é extremamente importante na economia, especialmente na ciência atuarial. John Ross escreveu: “A teoria das probabilidades e as descobertas após essa mudaram a nossa forma de encarar a incerteza, risco, tomada de decisão, e a capacidade de um indivíduo ou da sociedade de influenciar o curso dos eventos futuros.”. No entanto, deve notar-se que Pascal e Fermat, embora fazendo um trabalho inicial importante na teoria das probabilidades, não desenvolveram o campo muito mais longe. Christiaan Huygens, aprendendo do tema a partir da correspondência de Pascal e Fermat, escreveu o primeiro livro sobre o assunto. Mais tarde, pessoas que continuaram o desenvolvimento da teoria incluem Abraham de Moivre e Pierre-Simon Laplace.
Na literatura, Pascal é considerado um dos autores mais importantes do período clássico francês e é lido hoje como um dos maiores mestres da prosa francesa. Seu uso da sátira e do humor influenciou polemistas posteriores. O conteúdo de sua obra literária é mais lembrado por sua forte oposição ao racionalismo de René Descartes e a afirmação simultânea que a principal filosofia de compensação, o empirismo, também era insuficiente para determinar verdades importantes.
Na França, prestigiosos prêmios anuais, são dadas bolsas de investigação científica Blaise Pascal a proeminentes cientistas internacionais para realizar a sua investigação na região de Île de France. Uma das universidades de Clermont-Ferrand, França – Universidade Blaise Pascal – é nomeada em sua homenagem.
NA BRITANNICA
Blaise Pascal, (nascido em 19 de junho de 1623, Clermont-Ferrand, França – morreu em 19 de agosto de 1662, Paris), matemático francês, físico, filósofo religioso e mestre da prosa. Ele lançou as bases para a moderna teoria das probabilidades, formulou o que veio a ser conhecido como o princípio da pressão de Pascal e propagou uma doutrina religiosa que ensinava a experiência de Deus por meio do coração e não da razão. O estabelecimento de seu princípio de intuicionismo teve um impacto sobre filósofos posteriores como Jean-Jacques Rousseau e Henri Bergson e também sobre os existencialistas.
Da vida de Pascal aos anos Port-Royal
O pai de Pascal, Étienne Pascal, era juiz presidente do tribunal de impostos em Clermont-Ferrand. Sua mãe morreu em 1626 e em 1631 a família mudou-se para Paris. Étienne, respeitado como matemático, passou a dedicar-se à educação dos filhos. Enquanto sua irmã Jacqueline (nascida em 1625) figurava como uma criança prodígio nos círculos literários, Blaise provou ser não menos precoce em matemática. Em 1640, ele escreveu um ensaio sobre seções cônicas, Essai pour les coniques, baseado em seu estudo da obra já clássica de Girard Desargues sobre geometria projetiva sintética. O trabalho do jovem, que teve grande sucesso no mundo da matemática, despertou a inveja de ninguém menos do que o grande racionalista e matemático francês René Descartes.
Entre 1642 e 1644, Pascal concebeu e construiu um dispositivo de cálculo, o Pascaline, para ajudar seu pai – que em 1639 havia sido nomeado intendente (administrador local) em Rouen – em seus cálculos de impostos. A máquina foi considerada pelos contemporâneos de Pascal como sua principal reivindicação à fama, e com razão, pois em certo sentido foi a primeira calculadora digital, uma vez que operava contando números inteiros. O significado desta contribuição explica o orgulho juvenil que aparece em sua dedicação da máquina ao chanceler da França, Pierre Seguier, em 1644.
Até 1646, a família Pascal mantinha princípios estritamente católicos romanos, embora muitas vezes substituísse a religião interior por l’honnêteté (“respeitabilidade educada”). Uma doença de seu pai, porém, colocou Blaise em contato com uma expressão mais profunda da religião, pois ele conheceu dois discípulos do abade de Saint-Cyran, que, como diretor do convento de Port-Royal, trouxeram a austera moral e as concepções teológicas do Jansenismo na vida e no pensamento do convento. O jansenismo foi uma forma de agostinianismo do século 17 na Igreja Católica Romana. Repudiava o livre arbítrio, aceitava a predestinação e ensinava que a graça divina, em vez das boas obras, era a chave para a salvação. O convento de Port-Royal tornou-se o centro de difusão da doutrina. O próprio Pascal foi o primeiro a sentir a necessidade de se afastar totalmente do mundo para Deus, e ele conquistou sua família para a vida espiritual em 1646. Suas cartas indicam que por vários anos ele foi o conselheiro espiritual de sua família, mas o conflito interno ele mesmo – entre o mundo e a vida ascética – ainda não estava resolvido. Absorvido novamente por seus interesses científicos, ele testou as teorias de Galileu e Evangelista Torricelli (um físico italiano que descobriu o princípio do barômetro). Para isso, ele reproduziu e ampliou experimentos sobre a pressão atmosférica, construindo barômetros de mercúrio e medindo a pressão do ar, tanto em Paris quanto no topo de uma montanha com vista para Clermont-Ferrand. Esses testes abriram caminho para novos estudos em hidrodinâmica e hidrostática. Enquanto experimentava, Pascal inventou a seringa e criou a prensa hidráulica, um instrumento baseado no princípio que ficou conhecido como princípio de Pascal: a pressão aplicada a um líquido confinado é transmitida sem diminuir através do líquido em todas as direções, independentemente da área em que a pressão é aplicado. Suas publicações sobre o problema do vácuo (1647-48) aumentaram sua reputação. Quando ele adoeceu devido ao excesso de trabalho, seus médicos o aconselharam a procurar distrações; mas o que foi descrito como o “período mundano” de Pascal (1651-54) foi, na verdade, principalmente um período de intenso trabalho científico, durante o qual ele compôs tratados sobre o equilíbrio de soluções líquidas, sobre o peso e a densidade do ar, e sobre o triângulo aritmético: Traité de l’équilibre des liqueurs et de la pesanteur de la masse de l’air (Eng. trad., The Physical Treatises of Pascal, 1937) e também seu Traité du triangle arithmétique. No último tratado, um fragmento do De Alea Geometriae, ele lançou as bases para o cálculo de probabilidades. No final de 1653, porém, ele começou a sentir escrúpulos religiosos; e a “noite de fogo”, uma “conversão” intensa, talvez mística, que experimentou em 23 de novembro de 1654, que acreditava ser o início de uma nova vida. Ele entrou em Port-Royal em janeiro de 1655 e, embora nunca tenha se tornado um dos solitários, depois disso escreveu apenas a pedido deles e nunca mais publicou em seu próprio nome. Os dois trabalhos para os quais ele é mais conhecido, Les Provinciales e os Pensées, datam dos anos de sua vida em Port-Royal.
Les Provinciales de Blaise Pascal
Escrito em defesa de Antoine Arnauld, um oponente dos jesuítas e um defensor do jansenismo que estava sendo julgado pela faculdade de teologia em Paris por suas controversas obras religiosas, as 18 Cartas écrites par Louis de Montalte à un provincial tratam da graça divina e o código ético dos Jesuítas. Elas são mais conhecidas como Les Provinciales (“As Cartas Provinciais”). Incluíram um golpe contra a moralidade relaxada que se dizia que os jesuítas ensinavam e esse era o ponto fraco em sua controvérsia com Port-Royal; Pascal cita livremente os diálogos dos jesuítas e desacredita citações de suas próprias obras, às vezes com espírito de escárnio, às vezes com indignação. Nas duas últimas cartas, tratando da questão da graça, Pascal propôs uma posição conciliatória que mais tarde possibilitaria a Port-Royal subscrever a “Paz da Igreja”, uma cessação temporária do conflito sobre o jansenismo, em 1668.
Os Provinciales foram um sucesso imediato e sua popularidade não diminuiu. Isso eles devem principalmente à sua forma, na qual, pela primeira vez, a retórica bombástica e tediosa é substituída por variedade, brevidade, rigidez e precisão de estilo; como reconheceu Nicolas Boileau, o fundador da crítica literária francesa, eles marcaram o início da prosa francesa moderna. Além disso, algo de sua popularidade nos círculos da moda, protestantes ou céticos deve ser atribuído à violência de seu ataque aos jesuítas. Na Inglaterra, eles foram mais amplamente lidos quando o catolicismo romano parecia uma ameaça para a Igreja da Inglaterra. No entanto, eles também ajudaram o catolicismo a se livrar da frouxidão; e, em 1678, o próprio Papa Inocêncio XI condenou metade das proposições que Pascal havia denunciado anteriormente. Assim, os Provinciales desempenharam um papel decisivo na promoção de um retorno à religião interior e ajudaram a garantir o eventual triunfo das idéias expostas no tratado De la fréquente comunhão de Antoine Arnauld (1643), no qual ele protestou contra a idéia de que o devasso poderia expiar o pecado continuado por comunhão frequente sem arrependimento, uma tese que depois disso permaneceu quase incontestável até que a Igreja francesa sentiu a repercussão da revogação do Édito de Nantes (que havia concedido liberdade religiosa aos protestantes franceses) em 1685. Enquanto os jesuítas pareciam ter Representando uma Contra-Reforma preocupada predominantemente com a ortodoxia e obediência à autoridade eclesiástica, os Provinciales defendiam uma abordagem mais espiritual, enfatizando a união da alma com o Corpo Místico de Cristo por meio da caridade.
Além disso, ao rejeitar qualquer padrão duplo de moralidade e a distinção entre conselho e preceito, Pascal alinhou-se com aqueles que acreditam que o ideal de perfeição evangélica é inseparável da vida cristã. Embora não houvesse nada de original nessas opiniões, Pascal, no entanto, as imprimiu com a convicção apaixonada de um homem apaixonado pelo absoluto, de um homem que não via salvação sem um desejo sincero da verdade, junto com um amor de Deus que opera continuamente para destruir todo o amor próprio. Para Pascal, a moralidade não pode ser separada da espiritualidade. Além disso, seu próprio desenvolvimento espiritual pode ser rastreado nas Provinciales. O sentido religioso neles se refina progressivamente após as primeiras cartas, nas quais o tom do ridículo é mais inteligente do que caridoso.
Pensées
Pascal finalmente decidiu escrever sua obra de apologética cristã, Apologie de la religion chrétienne, como consequência de suas meditações sobre milagres e outras provas do cristianismo. O trabalho permaneceu inacabado em sua morte. Entre os verões de 1657 e 1658, ele reuniu a maioria das notas e fragmentos que os editores publicaram sob o título inapropriado de Pensées (“Pensamentos”). Na Apologia, Pascal mostra o homem sem graça como uma mistura incompreensível de grandeza e abjeto, incapaz de verdade ou de alcançar o bem supremo a que sua natureza aspira. Uma religião que explica essas contradições, que ele acreditava que a filosofia e o mundanismo falham em cumprir, é por essa mesma razão “para ser venerada e amada”. A indiferença do cético, escreveu Pascal, deve ser superada por meio da “aposta”: se Deus não existe, o cético nada perde por acreditar nele; mas se ele existe, o cético ganha a vida eterna por acreditar nele. Pascal insiste que os homens devem ser levados a Deus somente por meio de Jesus Cristo, porque uma criatura nunca poderia conhecer o infinito se Jesus não tivesse descido para assumir as proporções do estado caído do homem.
A segunda parte do trabalho aplica a teoria agostiniana da interpretação alegórica aos tipos bíblicos (figuratifs); analisa os textos rabínicos, a persistência da religião verdadeira, a obra de Moisés e a telhados sobre o papel divino de Jesus Cristo; e, finalmente, dá uma imagem da igreja primitiva e do cumprimento das profecias. A Apologie (Pensées) é um tratado sobre espiritualidade. Pascal não estava interessado em converter se eles não fossem santos.
A apologética de Pascal, embora tenha resistido ao teste do tempo, é principalmente dirigida a indivíduos que ele mesmo conhece. Para converter seus amigos libertinos, ele buscou argumentos em seus autores favoritos: em Michel de Montaigne, no cético Pierre Charron, no epicurista Pierre Gassendi e em Thomas Hobbes, um filósofo político inglês. Para Pascal, o ceticismo era apenas um palco. Teólogos modernistas em particular tentaram fazer uso de sua afirmação principal, que “o homem é infinitamente mais do que o homem”, isoladamente de sua outra afirmação, que a miséria do homem é explicável apenas como o efeito de uma queda, sobre a qual um homem pode aprender o que ele precisa saber da história. Ao fazer isso, eles sacrificam a segunda parte da Apologia à primeira, mantendo a filosofia enquanto perdem a exegese. Para Pascal como para São Paulo, Jesus Cristo é o segundo Adão, inconcebível sem o primeiro.
Por fim, também Pascal expressamente admitiu que suas análises psicológicas não eram, por si mesmas, suficientes para excluir uma “filosofia do absurdo”; para tanto, é necessário recorrer à convergência dessas análises com as “linhas de fato” concernentes à revelação, convergência essa por demais extraordinária para não aparecer como obra da providência a um angustiado buscador da verdade (qui cherche en gémissant )
Ele foi o próximo novamente envolvido em trabalho científico. Primeiro, os próprios “Messieurs de Port-Royal” pediram sua ajuda para compor os Élements de géométrie; e, em segundo lugar, foi sugerido que publicasse o que descobrira sobre as curvas ciclóides, um assunto no qual os maiores matemáticos da época vinham trabalhando. Mais uma vez a fama despertou nele sentimentos de auto-estima; mas a partir de fevereiro de 1659, a doença o trouxe de volta ao seu antigo estado de espírito, e ele compôs a “oração pela conversão” que os clérigos ingleses Charles e John Wesley, que fundaram a Igreja Metodista, mais tarde respeitariam tanto. Quase incapaz de um trabalho regular, passou a dedicar-se à ajuda aos pobres e à vida ascética e devocional. Participou, entretanto, de forma intermitente nas disputas que suscitaram o “Formulário” – documento que condena cinco proposições do jansenismo que, a pedido das autoridades eclesiais, deviam ser assinadas para que uma pessoa pudesse receber os sacramentos. Finalmente, uma divergência de opinião com os teólogos de Port-Royal levou-o a se retirar da polêmica, embora não tenha cortado relações com eles.
Pascal morreu em 1662 após sofrer uma dor terrível, provavelmente de meningite carcinomatosa após uma úlcera maligna do estômago. Ele foi assistido por um pároco não jansenista.
LEIA:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Blaise_Pascal